Segundo os últimos dados do INE, relativo a 2009, mataram-se 16 adolescentes. Número real pode ser superior. Rejeição amorosa é o principal motivo.O suicídio entre jovens está a aumentar em Portugal. Em média, todos os meses, um adolescente decide pôr termo à própria vida.
Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), 16 jovens, menores de idade, suicidaram-se em 2009.
Um número que pode ser muito superior em 2010: só o Instituto de Medicina Legal (IML) confirmou, nesse ano, dez suicídios entre adolescentes em Lisboa, Porto e Coimbra.
Muitos casos, porém, nem chegam a este instituto: quando não há dúvidas em relação à causa de morte, o Ministério Público não pede autópsia.
Carlos Braz Saraiva, coordenador da Consulta de Prevenção do Suicídio dos Hospitais da Universidade de Coimbra e um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS), observa que podemos estar perante «um novo padrão de suicídios consumados em Portugal».
Admitindo um aumento o número de suicídios entre adolescentes, o especialista defende, no entanto, que é cedo para dar como garantida a existência de um padrão (que apenas se confirma em longos períodos temporais).
O certo é que, só em 2009, houve quase o dobro dos suicídios registados em 2006, ano em que se suicidaram nove adolescentes. Em 2007, as autoridades contabilizaram dez vítimas e no ano seguinte 12.
Desses, a maioria são rapazes. «Tem existido um aumento de casos nos jovens do sexo masculino entre os 15 e os 24 anos», confirma Pedro Frazão, psicólogo, psicoterapeuta e terapeuta familiar.
Uma realidade que se deve, em parte, ao facto de «os métodos escolhidos pelos homens para por fim à vida serem mais letais».
Admitindo que os últimos dados são alarmantes, Pedro Frazão sublinha, porém, que na adolescência e início da idade adulta, o mais frequente «são as tentativas de suicídio, os gestos parasuicidários e a ideação suicida».
Realidade que não é retratada nas estatísticas, que excluem as tentativas de suicídio e os parasuicídios (tentativas de comunicar a dor sem a intenção real de morrer).
Lidar mal com rupturas
Os dados de um estudo da Consulta de Prevenção do Suicídio, de Coimbra, são, de resto, reveladores em relação às tentativas de suicídio ou ao parasuicídio: das mil pessoas que procuraram ajuda para prevenir o suicídio, metade têm menos de 24 anos.
Desses, 80% são mulheres, com uma idade média de 19 anos, de classes baixas e que revelam problemas no plano dos afectos ou reprovações. Segundo Braz Saraiva, «as mulheres são mais susceptíveis no que se refere aos assuntos afectivos».
Carlos Braz Saraiva revela que entre os «aspectos mais chocantes» que ouve nas consultas de prevenção do suicídio estão «referências a maus tratos (físicos, psicológicos, sexuais) e histórias de vida interpretadas como de rejeição continuada ao longo dos anos».
O mesmo diz Pedro Frazão, garantindo que os problemas «surgem muitas vezes na sequência de conflitos familiares ou de rupturas afectivas». Além disso, há ainda que ter em conta os aspectos genéticos ou a existência de uma depressão.
Os especialistas defendem novas medidas para um plano de prevenção do suicídio que, apesar de ainda continuar a ser cometido, sobretudo, por homens acima dos 50 anos, está a atingir mais jovens.
Segundo os dados do IML, das 10 autópsias feitas em 2010 a menores que se suicidaram, quatro foram em Lisboa, três no Porto e três em Coimbra. A vítima mais nova tinha 13 anos: era uma rapariga e enforcou-se. A maioria tinha entre 16 e 18 anos. Entre estes estavam dois rapazes de 17 anos que se envenenaram, em Coimbra.
Os métodos usados foram vários, desde intoxicações ao uso de armas de fogo, passando por quedas. Nos arquivos do IML consta mesmo um caso parecido com o de Jennifer Viturino. Em 2009, foi feita uma autópsia a uma jovem também de 17 anos que se atirou de um prédio.
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